sexta-feira, 11 de abril de 2014

Comemoração do corpo ou da alma?

Prossegue em mim este encanto de saber que não estou sozinho. um olhar distante sobre a pia onde já não tem louças pra lavar, apenas um copo de fanta que tomei antes. Uns acuados de cachorro me acompanham, durmo mais um pouco depois que o celular tocou pela segunda vez. Sou o propósito comum, absorvido pela carne que me tece. Por vezes a inspiração vem me ver. Vestida de tristeza se aloja num canto do quarto e insiste a me ditar poemas. Neles, a alma pode se lenir, num abstrair-se sereno, inevitável, quase religioso... As lagrimas escorrem sem saber o porque... A intensidade rítmica do poema e seus algozes vai favorecendo à alma em cacos um constante restituir-se nas palavras. Verbos que se ajeitam na curva da dor, pronomes que se entranham no vácuo da mágoa e adjetivos que acariciam os restos de alegria. Este é o cenário interior do poeta que muitos dizem que sou, lá, onde o poema não escrito espera as dores da contração poética. Filho, que no silencio da carne, espera o milagre gráfico que o fará concreto, palavra e por vezes musica Tudo mais são confluências ontológicas, sombras de inspirações alheias, saio do serviço cansado e pego um trânsito caótico.... Dia 11 será a festa da minha nova idade, novidade que continua continuando, sem inovar, feito rio que corre sem se mover, movido pela força de ter que ir, sem poder ficar. Assim o tempo, a vida e eu. Persegue em mim este encanto de saber-me indo-me. Este não parar, não poder ficar, contínuo indo, constituindo-me para sempre findo-me em. esta embriagada forma de viver morrendo, crescendo e de ser feliz. Meu olhar é um ensaio do eterno. No findo, o lindo se mostra, projeta-se para fora do tempo e se ossifica de alguma forma. Adorada condição primeira de saber-me cera que se dissolverá. Feito luz que se alojou na fresta, quero assim sem pressa, no eterno me abrigar e sentir-me bem Por isso quero a música, a palavra, o cotidiano. Lugares que desafiam o tempo e sua bruta forma de correr... Ver meus filhos crescerem Com eles eu vou mais devagar. Neles eu encontro a pausa, a esposa e a revelação divina.Neles eu descanso a alma que não tem pressa, porque é eterna. O corpo, marcado pela condição de ser finito, vive a ansiedade de perder o tempo, o horário e a definição de seus músculos. Alucina-se na temporalidade do êxtase e degusta a vida frutificada em seus diversos sabores. Ele sabe o quanto é bom viver! Enquanto isso, não exatamente no tempo em que digo isso, a alma esmera-se em dar-se a si mesma como experiência fundante e absolutamente bela. Alimenta-se de outros sabores, ampara-se em outras margens e toca o teu violão como se tivesse num show....Mas ama o corpo. Não o despreza, mas o impregna com detalhes do seu fundamento. Sensibiliza-o e o prepara para a arte. Religiosamente o ensina a rezar, tocar o eterno e a sentir os sabores por outras vias. Ela o ensina dançar, ter ritmo, postura elegante. A alma é a educadora do corpo, pedagoga e historiadora que o guia pela mão. Andam juntos e se amam em suas diferenças. Não têm o mesmo tamanho. Alguns corpos imensos abrigam almas pequenas, minúsculas. O contrário também é verdadeiro. Corpo e alma se alimentam de diferentes substratos. Há também os corpos torneados aprisionando almas mancas. E corpos disformes possuidores de almas elegantes ah como é bom ser assim elegante...... Mas por ser humano dmais, me mostro manoco por vezes.... É que quando a alma não tem a primazia, o corpo tende a sufoca-la, entorpecê-la. Vive como corpo, apenas. Vê o que vê, toca o que toca, sente o que sente e sabe o que sabe. Vive apenas para envelhecer, colecionar idades, erguer paredes e contar dias no calendário. Quando as duas realidades caminham juntas, o corpo tende a ganhar novos significados. A alma que não envelhece, torna-o mais sensível para as realidades que não passam. Ela o impregna de novas cores, novas disposições... assim eu amo mais... Não sei porque estou me dispondo a descrever a realidade humana de maneira tão fragmentada, positivista. Somos um mistério único no ato de sermos corpo e alma. Tudo mais é mera especulação sem fundamento. Talvez eu esteja falando disso porque sexta é o meu aniversário. Aniversário do corpo ou da alma? Acho que é do corpo. Foi ele que nasceu um dia. Não sei. O que sei é que no aniversário do meu corpo quero mesmo é a comemoração da alma e sorrir ao lado de quem me ama e quer bem... By Marconi

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