sábado, 10 de julho de 2010

O copo e as ruinas


O copo de guaraná pousado sobre a mesa
segreda motivos que não cabem nos conceitos das palavras,
mas extrapolam a grafia porque pertencem a algo a que não
sabemos dar nome loucuras de minha imaginação.... Assim como pegar minha moto e sair, ficar olhando(pensando) o copo e tomar guarana faz parte do meu cotidiano.
Tive uma visão de vida meditando sentado ali comendo um prato de comida e olhando o copo...
Floresceu diante de meus olhos, assim como o
ipê desafia as regras do inverno e se reveste de flores.
Meus caros leitores, diante de minhas confissões, concluo
mais uma vez que a dor é um território santo.
Há uma passagem na Sagrada Escritura que considero
de beleza insondável. Moisés estava diante de uma sarça
que ardia sem se consumir, quando ouviu o imperativo de
Deus: “Retira as sandálias dos teus pés, porque este solo
que pisas é santo!”.
Confesso que este dito musicou meu coração
durante meu pensamento na vida ali sentado. A trilha sonora fez com que
as palavras lidas se misturassem às palavras recordadas. É a
partir desta meditação que me vem algo como meus futuro, minhas apostas meu amor, sobre tudo meu amor que anda pulsando muito forte dentro do meu coração
Confesso que estou temeroso. Não gosto de respostas apressadas. Tenho medo de dizer, sem dizer, afinal, que o que há de mais precioso nesta vida costuma ser vivido e
experimentado a partir do silêncio frutuoso.
Carlos Drummond de Andrade, o poeta que admiro profundamente, recomendava que, antes de escrever os poemas, é preciso conviver com eles.
Ele insinuava que antes do nascer da palavra há sempre
um sabor de silêncio que precisa ser sorvido. Creio que o poeta tinha razão. A boa palavra se alimenta de silêncios e pausas. Um grande poema costuma nascer
de profundas e fecundas experiências de contemplação da
realidade das nossas dores e alegrias. O poeta, ao enxergar o silêncio do ainda não
dito, diante dele se prostra e o experimenta, e somente
depois o reveste de palavras. minhas perguntas e inquietações são religiosas e questionadoras. Elas buscam unir as pontas
da corda que amarra a vida e a sustenta de sentido.
Costumo dizer que a dor é uma quebra da corda, porque
nos retira da segurança. Há acontecimentos que nos
fazem mergulhar no absurdo da existência( sofri muito esses dias uma dor imensa com problemas familiares e escolhas). O absurdo é a
ausência de sentido. É o momento da vida em que a alma
se sente penetrada e transpassada por uma dor lancinante.
É no momento do desespero que experimentamos a nossa
humanidade em suas dimensões mais venturosas. Os exemplos já foram postos por mim.... Deles fiz poesia qualificada. A alma transliterada nos faz mergulhar
A dor transmudada, redimida, purificada nos calvários da escrita
que o ofício poético lhe reservou um lugar em minha magoas, tem o poder de
me devolver a apetência do sonho de ser feliz. Meu pai divino e minha filha, não menos importante a minha mãe(in memoriam) me dá coragem de enxergar as belezas que se escondem nas tristezas.
Imagino a demolição de um prédio ou de um muro que tem na frente de casa
A descrição minuciosa do acontecimento nos leva a experimentar
os mesmos sentimentos, eu que nunca
havia pisado no tijolos quebrados daquela construção naquela rua, chorei ao olhar o muro em ruinas sei lá o porque e logo depois posar em uma foto feliz vendo aquelas paredes tão frágeis o complexo que existe em mim vai entender essa sensibilidade.
Meus queridos vez ou outra nós também presenciamos as
ruinas de nossos muros interiores. Vez ou outra
precisamos encarar os monturos que restaram de nossas
realidades. É o tempo, e sua cabeça implacável a reger os
acontecimentos. É o inevitável meus queridos o ruir de uma presença humana.
A contrução, acolhedor, ocupando a centralidade
de sua cidade interna. Minha mãe cumpria o ofício de ser
parede protetora em dias de combate, telhado que o resguardava meus medos;
varanda que lhe permitia contemplar o bom da vida,
naquilo que chamamos de fraternidade.
Um dia a fatalidade a resgatou. O prédio foi demolido,
assim como as ruinas do muro de casa...
Da mesma forma meu pai projetou a
arquitetura de meu carater me ensinou tudo o que
sobre a humildade, também foi embora de maneira
definitiva. Grandes perdas, grandes pedras. Grandes
aprendizados, grandes flores.
Mais uma vez eu me recordo de Drummond e de seu
sábio conselho: “Convive com os teus poemas antes de
escrevê-los”.
Meus queridos, há acontecimentos que não combinam
com explicações. E, mesmo que explicações
existissem, não seriam capazes de aplacar a dor que provocaram.
Nem sempre os claros e objetivos postulados da
razão cartesiana conseguem resolver as questões humanas.
Saber o porquê da morte não sana nem preenche a
ausência sentida.
Como ex seminarista, tenho constatado que o discurso
religioso, quando mal aplicado, pode ser tão nocivo
quanto o discurso desumano dos assassinos.
Escuto absurdos sobre Deus, quando pessoas movidas
por boas intenções resolvem explicar as fatalidades
do mundo. Frases simplórias e descomprometidas com
a verdade não resolvem; ao contrário, agravam ainda
mais o sofrimento, porque geram descrença
e abandono.
Justificam as tragédias humanas como “vontade divina”,
retirando assim a responsabilidade humana dos acontecimentos,
fruto das escolhas que fazemos. Respondem a tudo
e a todos como se o desvelamento do mistério pudesse
resolver as questões.
Eu ainda prefiro o abraço solidário, o silêncio que nos
permite proximidade e o comprometimento com a dor
que me toca. Ainda prefiro sentir o vento frio do calvário a
procurar o aquecimento mórbido do sepulcro que nos cala
antes da hora.
Gosto de compreender as religiões como tentativas
humanas de refazer a corda. Tenho medo quando o discurso
religioso é utilizado para responder de forma mágica a
questões que são humanas, sangradas no asfalto das cidades,
em lugares que nossos olhos não alcançam.
Dessa forma, deixamos de plantar as flores e insistimos
em chorar sobre as pedras. Diante do muro demolido bahh pra mim chorar purifica
Gosto de compreender a ressurreição de Jesus da
mesma forma. Diante da ausência sentida, a saudade fez
o apóstolo intuir e proclamar: “Ele está no meio de nós!”.
O grito nasce do reconhecimento da transformação acontecida.
Eles não eram mais os mesmos mas acreditavam e tinham a esperança de serem felizes mesmo com partida do mestre, assim como eu tento ser mesmo sem meus pais nesses dias de combate mas com a certeza que deus protege e tenho alguém que me ama por demais e eu retribuo esse amor....

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